2 de setembro de 2008

A Fábula-mito do cuidado


Certo dia, ao atravessar um rio,

Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada.

Tomou um pouco de barro e começou a dar-lhe forma.

Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.

Cuidado pediu que soprasse espírito nele.

O que Júpiter fez de bom grado.

Quando, porém, Cuidado quis dar um nome a criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu.

Exigiu que fosse imposto o seu nome.

Enquanto Júpiter e o cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra.

Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da terra. Originou-se então uma discussão generalizada.

De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro.

Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:

“Você, Júpiter, deu-lhe o espírito, receberá, pois de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.

Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.

Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto viver.

E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.

Leonardo Boff



(Boff, 1999, p.45,46) A fábula-mito sobre o cuidado essencial é de origem latina com base grega. Ela ganhou sua expressão literária definitiva pouco antes de Cristo em Roma. Apresenta-se aqui a tradução com pequenas variações realizada por Boff.

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